É fascinante como, em pleno século XXI, com todo o acesso à informação e aos estudos científicos, ainda precisamos debater questões tão básicas sobre os hábitos diários. A soneca da tarde, esse costume que muitos defendem com unhas e dentes, pode ser um dos vilões ocultos que prejudicam a qualidade do seu sono noturno. Vamos ser diretos: não é questão de opinião, mas de evidência científica. Cochilar por longos períodos durante o dia pode, sim, bagunçar seu relógio biológico e dificultar o sono de qualidade à noite. Mas, como sempre, há quem insista em dizer o contrário, sob a desculpa do “eu me sinto bem assim”.

Vamos aos fatos. Entenda que a “pressão do sono”, esse conceito simples de que, ao longo do dia, o cérebro vai acumulando adenosina e nos preparando para o sono noturno, é real e decisivo para a nossa saúde. Você tira uma soneca de 45 minutos depois do almoço, alivia essa pressão e adivinha o resultado? Passa horas rolando na cama, sem conseguir pregar o olho. Se você já passou por isso, sabe exatamente do que estou falando.

Pressão do sono: o ciclo biológico que não pode ser ignorado

Muitos parecem esquecer que o corpo humano segue um relógio biológico chamado ritmo circadiano. Estamos biologicamente programados para ter períodos de vigília e sono. Quando respeitamos esse ciclo, entramos nas fases corretas do sono, o que permite que o corpo se recupere e a mente se reequilibre. No entanto, as famosas sonecas diurnas podem desestabilizar tudo isso. Uma pesquisa publicada no Journal of Clinical Sleep Medicine em 2017 revelou que cochilos prolongados durante o dia estão associados a maior dificuldade em adormecer à noite. Faz sentido, não? Você “quebra” o acúmulo natural de cansaço e espera que seu corpo reaja como se nada tivesse acontecido.

Ritmo circadiano: bagunçar o relógio é brincar com fogo

Por mais que a soneca rápida pareça inofensiva, especialmente quando se tem aquele intervalo no trabalho ou durante o almoço, é preciso prestar atenção ao horário. Cochilar no fim da tarde, como muitos gostam de fazer, é uma excelente maneira de sabotar a própria noite. Nosso ritmo circadiano funciona com uma precisão impressionante, sincronizando os momentos de maior alerta e sono profundo. Quando você interfere nesse ciclo com uma soneca longa ou tardia, basicamente manda um sinal confuso para o cérebro: “é hora de dormir ou de ficar acordado?”. Não é de se espantar que muitos relatam insônia ou sono fragmentado depois dessas aventuras diurnas.

Benefícios físicos: quando a soneca é feita com responsabilidade

Agora, não estou aqui para demonizar completamente o cochilo. Em um mundo ideal, se você souber usar esse artifício com inteligência, pode até colher alguns benefícios físicos. Sonecas curtas, de 10 a 20 minutos, feitas no início da tarde, têm o poder de aumentar o estado de alerta e melhorar o desempenho cognitivo, como apontam estudos da National Sleep Foundation. A curto prazo, você vai se sentir mais energizado, mais focado e, talvez, até mais produtivo. Mas esse tipo de prática exige uma disciplina férrea: controle no tempo e na hora certa do dia. Não é para amadores.

Benefícios mentais e emocionais: recarregando a mente sem perder o equilíbrio

Cochilar, quando feito corretamente, pode ter efeitos positivos na saúde mental. Uma soneca bem cronometrada pode reduzir a sensação de cansaço mental, aliviar o estresse acumulado e, claro, fornecer uma pausa momentânea da loucura do dia. O problema é quando esse momento de descanso se transforma em algo que bagunça todo o seu ciclo de sono e, em vez de aliviar a mente, acaba gerando mais frustração à noite.

Dicas práticas: como transformar a soneca em aliada

Se você é daqueles que não consegue passar o dia sem uma soneca, pelo menos siga algumas regras básicas para minimizar os danos. Primeiro, limite o cochilo a 20 minutos. Segundo, tente tirar essa soneca no início da tarde, idealmente logo após o almoço. E terceiro, evite ao máximo cochilar no final do dia — a menos que você queira passar a noite acordado, assistindo às piores infomerciais na TV.

Sonecas: a verdadeira questão não é descansar, mas como descansar

No final das contas, tudo se resume a isso: respeitar o seu corpo. A soneca pode parecer tentadora, mas ela deve ser usada com cautela, ou os efeitos podem ser piores do que a sensação momentânea de cansaço. Nossas vidas modernas estão repletas de distrações e compromissos que nos fazem negligenciar o descanso adequado, e a solução não é tapar os buracos com cochilos durante o dia. Um sono noturno de qualidade continua sendo a melhor estratégia para recarregar de verdade a sua energia — sem atalhos.